sábado, 12 de agosto de 2017

Rio desespero de janeiro a janeiro

Carioca é sobrevivente. Emoção em cada esquina.

Direito de ir e vir acabou. Não existe mais, uma hora você tem que parar, se abrigar e esperar o tiroteio acabar.
Tiroteio, bala perdida, morte é cada vez mais comum ouvir ou falar.
Tutoriais de como se proteger de balas perdidas bombando nas redes sociais.
Você sabia que o bloco do motor do carro é o melhor lugar pra se proteger dos tiros?
Mais uma criança morreu, tiroteio fecha via, bala perdida dentro de casa, arrastão, roubo de carga...
Crianças morrendo antes de nascer. É um absurdo muito grande!
O que nossos governantes tem a dizer sobre isso? Nada.
Eles estão muito ocupados cuidando de si mesmo, dos roubos e dos seus helicópteros.
O que a polícia tá fazendo? Tá morrendo também.
“Mais uma vítima de bala perdida...” Assim começa o jornal.
Secura na garganta, suor, dificuldade de respirar são sintomas da violência.
Síndrome do pânico, ansiedade, estresse pós traumático são doenças comuns em crianças, jovens e adultos.
Antigamente o problema era virose. Agora é estresse e não tem idade.
Calmante deveria ser item de cesta básica.
Shopping, praia e escolas se tornaram lugares perigosos.
Crianças aprendendo táticas de guerra. Barulho de tiro cada vez mais perto.
Preocupação com família e amigos. Fazer uma visita a um amigo distante não é mais uma coisa boa.
Se eu te fizer uma visita é porque te considero muito.
Tem hora pra ir embora. Não queremos mais saber qual a menor distância. Queremos saber qual o caminho menos perigoso.
Pegamos o costume de pedir notícias para saber se chegou bem.
A culpa de ter sido assaltado é da vítima. Quem mandou passar por ali? Quem mandou falar no celular?
Quem mandou ser mulher?
Já fiquei presa no engarrafamento e o tiro comendo, já tive um revólver apontado para minha cara, já peguei tiros e assalto dentro do ônibus.
Já estive em delegacia mais do que gostaria.
Acho que tive uns 5 celulares roubados. Um deles tinha pouco mais de 1 semana. As parcelas duraram 10 meses.
Isso te transforma, traumatiza. Não dá pra esquecer, superar.
Blitz de lei seca não é mais um problema. Tiroteio é mais importante.
Ficar sem o carro, pagar multa tá tranquilo. Pior é ficar sem a vida.
Aplicativo de onde tem tiro ganha espaço nas redes sociais, na tv e no seu smartphone.
A rádio de notícia é líder de audiência.
Não posso ouvir música no carro para ir trabalhar. Preciso saber as notícias.
Nas redes sociais é a melhor forma de se atualizar. Muitas verdades e muitos boatos.
Melhor acreditar em tudo.
Já amei muito essa cidade. Hoje tenho nojo.
Presto atenção na rua, no carro do lado. É automático.
Se perder no caminho é muito risco.
Prefiro ficar em prisão domiciliar.
É o medo coordenando nossas vidas.
Quem consegue ir embora é refugiado de guerra.
Rio cidade desespero.

Muito triste com tudo isso.

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